sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A AMPLIFICAÇÃO DA HARMÔNICA (PARTE 1)

1 - INTRODUÇÃO

Verdade seja dita: há um grande número de pessoas que toca harmônica e possui dificuldades na sua amplificação. Até operadores de som e técnicos de áudio experientes muitas vezes desconhecem a capacidade sonora da gaita e não alcançam uma equalização ou mixagem que valorize o instrumento na gravação ou apresentação. É importante que, ao amplificar o som da harmônica, seja na hora da apresentação em palco ou gravação em estúdio, exista uma parceria entre técnico de som e o gaitista. A parceria entre ambos é meio caminho andado.Minha proposta é auxiliar ambos a amplificarem a harmônica de forma mais consciente, a extraírem do instrumento suas reais capacidades sonoras, alcançando diferentes timbres e evitando desconfortos como sons estridentes, falta de volume e principalmente "feedback", popularmente conhecido como "microfonias" ou "realimentação" - o maior pesadelo dos gaitistas. Quero lembrar que não me especializei nem sou referência no assunto, mas apenas tenho curiosidade e vontade de reunir informações úteis nesse sentido. Existem diversas combinações de equipamentos para microfonar a harmônica que podem ser utilizados em diferentes contextos musicais. Escolher o equipamento adequado ao seu som não é uma tarefa rápida e fácil. Exige experiência, muita experimentação e consciência do tipo de som que se quer atingir. Já pensou nisso? Qual a sua referência de som de gaita? Você tem uma? Há uma grande confusão sobre qual microfone usar em determinado tipo de música e como usá-lo, como segurá-lo, onde plugar (direto na mesa de som; no P.A; num amplificador???), qual tipo de amplificador? Por exemplo, só porque um microfone tipo bullet* é definido como "um microfone de gaita", não significa que o mesmo foi projetado para se utilizar em todo e qualquer contexto. Então espero neste blog estar desmistificando detalhes sobre este assunto.

bullet*: aqueles microfones bojudos do tamanho de uma bola de tênis comumente utilizados por gaitistas de blues elétrico.



2 - FATORES QUE CONSTROEM O TIMBRE

Quando dois instrumentos como uma guitarra e uma sanfona executam a mesma nota, ouve-se "timbres" diferentes. A definição sonora também é causada pela forma como cada pessoa toca seu instrumento. Sendo assim, se duas pessoas tocarem o mesmo riff na mesma harmônica, ouviremos "timbres" diferentes, principalmente, porque esse instrumento não possui uma caixa de ressonância, sendo o próprio tocador responsável por isso. Para se alcançar um timbre mais maduro* na modalidade de harmônica amplificada é necessária uma combinação de fatores: a) equipamentos adequados; b) experiência para manuseá-los, isto é, uma técnica que só pode ser aprendida na vivência, e não somente num acúmulo de informações amontoadas e decoradas na cabeça sobre amplificação da gaita; c) a estrutura corporal do instrumentista influencia no som que ele produz, isto é, a intensidade de seu sopro, a sua embocadura, o tamanho de sua boca, a posição da língua, a contração dos músculos da garganta, a maneira como se segura o instrumento, enfim, não é só o tipo de equipamento e a técnica usada. Cada situação, cada sala, cada equipamento de som possui uma particularidade que influencia na adição ou cortes de frequências. Só a maneira como se segura a harmônica e o microfone já influencia notadamente no timbre.

Timbre maduro* - extrair do instrumento as possibilidades que o mesmo oferece

3 - POSSIBILIDADES SONORAS 


Existe grande diferença entre tocar gaita de forma "limpa" (popularmente chamado de tocar "acústico" ) e "eletrificada". A harmônica tomou novo rumo, desde o final da década de 40, com sua eletrificação, quando gaitistas de Chicago e Memphis passaram a utilizar um microfone plugado num amplificador valvulado como o Masco MA 17 Tweed 1940 na foto. Desde essa época temos grandes referências que comprovam que a "gaitinha" pode ser o instrumento principal de uma banda apesar de muitos a tratarem como uma mera acompanhante da guitarra ou algo assim. Não se grava uma guitarra de jazz da mesma forma que uma guitarra de rock. O equipamento e a regulagem são completamente diferentes e na gaita acontece o mesmo.



4 – DICAS: UTILIZANDO MICS NORMALMENTE USADOS PARA VOZ

Um gaitista profissional possui normalmente sua maleta com vários tipos de gaitas em diversas afinações e cada uma delas apresenta uma freqüência sonora diferente (sons mais agudos ou mais graves). Normalmente, um gaitista troca de gaita por música, enquanto outros instrumentistas permanecem com o mesmo instrumento. Basicamente, as gaitas nas afinações G (Sol), A (Lá) e B (Si) possuem sons mais graves e as de D (Ré), E (Mi) e F(Fá) são mais agudas e estridentes, principalmente, a de F (Fá). A gaita em C(Dó) é um meio termo, então, uma dica  é, antes da apresentação, reservar um tempo para passar o som com uma harmônica nessa afinação. Pode-se também passar o som com gaitas mais graves e tocar riffs, desde a região aguda até a região mais grave do instrumento. Dessa forma, você já apresenta ao técnico as possibilidades sonoras de seu instrumento. Tocando numa gaita em “Lá”, por exemplo, pode-se começar fazendo riffs com os orifícios dois e três aspirados, que, por sua vez, possuem menos volume, o que pode levar o técnico de mesa a dar mais sinal. Depois, intercalando com a região média, tocando os orifícios quatro, seis aspirados, para verificar se a equalização não está aguda demais. Veja no vídeo, o gaitista Sugar Blue utilizando uma gaita barítono (afinação dó) para passar o som. Ele passeia pelas 3 regiões da gaita e encontra um ponto onde o técnico pode cortar o excesso de uma freqüência que ainda não havia sido notado.


5 comentários:

  1. Muito bom o assunto escolhido e a maneira como abordou, vou ler novamente, para acrescentar minha opinião. Rodrigo Morenno www.harmonicamaster.com

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  2. O balcão do musico junto com Luiz Rocha vem aproximando mais; os músicos, os aprendizes, os admiradores, e todos aqueles que precisavam de um espeço como esse. Que pra minha supresa agora achamos ate material técnico.
    Parabens Luiz (ansiosos pela proxima postagem).
    Falta tambem organizar aquele encontro de gaitista aqui de Salvador.
    Grande abraço,
    Rogerio Batista (aluno-fã)

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  3. Não entendi, afinal de contas é melhor passar o som com uma gaita média ou uma grave? Valeu, Abraços.Leandro.

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  4. Oi Leandro, como vai. Quiz dizer que a gaita em C(Dó) é uma boa opção para se passar o som por ser um "meio termo" em relação à intensidade sonora de cada afinação de gaita. Contudo, na presença de um técnico de som que não conheça as possibilidades sonoras do instrumento, torna-se interessante passar o som com uma harmônica grave e tocar em todas as regiões dessa harmônica, de forma que você execute as notas graves, médias e agudas da mesma. Dessa forma você estará apresentando ao técnico todas as possibilidades de alcance sonoro da harmônica. Citei o exemplo do Sugar Blue que está com uma Barítono em C (que é uma gaita bastante grave, mas também possui os seus agudos).

    O que acontece normalmente é que se vc passar o som com uma gaita muito grave (tocando riffs apenas na região grave), o técnico de som que não conhece o instrumento pensará que aquela é a única posibilidade de alcance sonoro da gaita. Então ele vai equalizar o som de acordo com aqueles graves, talvez até incrementando frequências agudas e quando vc trocar de afinação e pegar uma gaita em F (aguda) por exemplo, você irá sofrer, e o público também...

    Espero ter ajudado!
    Luiz Rocha

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  5. Caramba! Luiz, vc ja tinha me mostrado este tópico a respeito de amplificação porém eu naunca tinha lido nem muito menos estudo o assunto!

    Obrigado por estas pesquisas! Eu (acredito falar por muitos) agradeço mesmo PQ nao é fácil encontrar estes assuntos por ai, e esta pesquisa e estudo que vc fez ajuda-nos a entender mais ainda o mundo da gaita!

    Abração!

    DEUS o abençoe!

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E você, o que pensa sobre isso?