quarta-feira, 4 de março de 2009

A AMPLIFICAÇÃO DA HARMÔNICA (PARTE 4)

Olá Amigos, tenho notado que o número de visitas e comentários está crescendo, acho que estou num bom caminho. Meu objetivo é, com a ajuda de vocês, concentrar em um mesmo espaço uma rica fonte de pesquisa sobre a amplificação da gaita. Realmente, é desgastante ficar horas, dias e até anos gastando tempo e dinheiro tentando descobrir como é que “os caras” faziam/fazem para tirar “aquele som”, ou seja, descobrir o que já foi descoberto.

“AUMENTA A GAITA AÊÊÊ... & *fdp %po&$#) $ #”

Bom, na última postagem, falei sobre microfones alternativos, timbres híbridos, transformadores de impedância e algumas dicas de palco. Agora vamos ler mais de gente que entende do assunto. 

É preciso se acostumar com a idéia de que passar o som com a banda inteira tocando, ajuda a definir melhor os níveis. Não se checa o volume de um instrumento sem ter os outros instrumentos para comparar. É muito comum que alguns músicos ou técnicos achem o som da gaita, às vezes, estridente e com volume muito alto quando a mesma é tocada sozinha. Já tocando juntamente com a banda, o som da harmônica se dilui, chegando, às vezes (na maioria das vezes), a precisar de mais volume. Conversando com o Guto Santana, gaitista paraibano, residente em Recife, ele me explicou algo que, apesar de parecer óbvio, passa despercebido por muitos: 

“a gaita fica numa região média aguda e essas frequências sozinhas podem incomodar. Já dentro de um contexto, com outros instrumentos tocando em outras regiões, principalmente a grave, esse incômodo pode desaparecer”. 

Outro comentário parecido, porém interessante foi do Rafael Domingos, falando sobre as influências de uma boa customização na hora de chegar ao timbre desejado. Luthier, bastante conhecido por seu belíssimo trabalho na customização e preparação do instrumento inclusive para o total cromatismo, o Rafael disse: 

“qualquer instrumento executado sozinho, a sua tendência será de maior volume, pois nossos ouvidos irão captar uma freqüência sonora única. Os outros instrumentos tocados em conjunto, formam uma força sonora maior que um instrumento sozinho”. 

Também achei interessante colocar um comentário do Kenji: 

“Um problema que eu vejo é que, geralmente, um membro da banda aumenta e todo o resto segue. E como a gaita é a primeira a dar microfonia, ela leva a pior. Para resolver, só escolhendo músicos que consigam tocar bem sem ter que aumentar demais o volume”. 

Esse comentário me deu a idéia de enviar o texto e perguntas abaixo para diversos gaitistas e publicar suas respostas. Obrigado pela colaboração de todos. Adianto que nenhum dos gaitistas participantes desta pesquisa teve acesso às respostas uns dos outros com exceção de quem me respondeu pela lista do Gaita-L. Eis o texto e perguntas enviadas a cada um:

VOLUMES – GUITARRISTAS E GAITISTAS

Muitas vezes, ao passar o som, tocando somente a gaita, sem outro instrumento tocando simultaneamente, a gaita parece estar com volume alto o suficiente para se destacar, mas quando entra a banda, ela parece sumir. Poderia comentar sobre as possíveis causas disso e dicas de como evitar essa situação? Aproveite e comente se, a seu ver, existem caminhos e formas diferentes de se explorar o som de outros instrumentos como a guitarra, por exemplo, para otimizar a presença de uma gaita na banda. O que um guitarrista ou o próprio gaitista podem fazer para dar melhores condições de todos aparecerem sem competição sonora? 

RESPOSTAS

"Eles (guitarristas) têm captadores que, de uma forma ou de outra, influenciam na questão da intensidade sonora. Temos que levar em consideração também que cada instrumento tem o seu volume de som natural. Sempre teremos que ver os decibéis dos instrumentos tocados, simultaneamente, para se chegar ao melhor som uniforme possível. Por isso, a passagem de som sempre será fundamental, pois como sabemos, varia de lugar para lugar, mas, com certeza, tendo-se a noção das perdas e ganhos do seu instrumento em relação aos outros, ajudará a ter uma equalização final mais rápida e unânime". (Rafael Domingos)

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“Sempre passe o som com outros instrumentos que irão te acompanhar. Se isso não rolar, a chance desse problema acontecer é grande. A guitarra fica na mesma região da gaita, logo, se uma guitarra estiver muito alta (como quase sempre está), adivinhe quem irá sumir? E, então, você aumenta no palco de todo jeito e começa aquele apito de microfonia! Dependendo de seu equipamento não tem como competir com a guitarra. Por exemplo, como você vai aumentar o volume usando um amplificador transistorizado de 15watts? Tem também a questão do ambiente em que você toca, quanto menor, pior, por ter mais reflexão do som e mais chance da microfonia.” (Guto Santana)

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"Realmente a passagem de som é o momento mais importante do show. Deve ser feita com paciência e necessita de tempo e interação entre a banda e a equipe de áudio. O que acaba acontecendo é que a falta de paciência e os atrasos, acabam por influenciar negativamente todo o processo. Meu conselho é que devemos passar o som com calma. Antes do som ir pro operador, equalize seu amp da melhor forma possível e só depois passe pro PA. O Volume ideal deve ser de médio pra baixo no palco, isso claro, toda a banda junta, pois muita poluição sonora no palco todas as frequências se misturam virando uma bagunça só, o que acontece na maioria dos casos. Tenha sempre o melhor equipamento possível, onde você possa ter uma variante de volume bem grande, pra quando precisar de um gás você consegue sem o menor problema. Quanto aos guitarristas importunos, acho que numa banda com gaita, na verdade, os gaitistas são os mais importunos. Nesse caso, vamos tentar trabalhar em conjunto com os guitarristas, executando convenções e melodias juntos, abrindo vozes e criando, sempre em conjunto e nunca duelando. Economize as frases desnecessárias, seja pontual e assim sua gaita será muito valorizada na música. É isso gaitistas, experimentem e criem." (Rodrigo Eberienos)

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"Esse é um grande problema para os gaitistas, na verdade para qualquer músico, pois na maioria das vezes a banda toca muito alto e prejudica o modo que vamos tocar, isso vale também para os vocalistas, a melhor opção é tentar mostrar para a banda que existe uma coisa chamada dinâmica e que isso é super importante, pois quando uma banda tem dinâmica, qualquer solista, seja ele gaitista, guitarrista ou até mesmo vocalista, tem mais liberdade para interpretar os solos, usando efeitos e usando a dinâmica ao seu favor o solista pode criar solos com vários climas. Aconselho a todas as bandas tocarem baixo no palco, com o volume confortável para todos os integrantes e principalmente os guitarristas evitarem "solar" o tempo todo, muitos guitarristas não fazem uma base boa, ficam solando o tempo todo, em cima da voz, em cima da gaita, etc. Escutem bandas que o principal solista não seja a guitarra, ouça as bases e os arranjos que essas bandas fazem. Toquem com dinâmica." (Jefferson Gonçalves)

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"Já passei por muitas situações desse tipo. Na verdade existem duas maneiras de tocar guitarra e uma delas inclui a maneira de tocar para acompanhar um gaitista. Nessa a guitarra é muito mais econômica. Quando o trabalho é centrado na gaita como elemento principal o ideal é que os outros instrumentos toquem baixo, pois a gaita tem um limite de volume muito baixo por conta da microfonia. O difícil é achar um pessoal disposto a tocar dessa maneira. Bateristas: tocar baixo e com pegada. (pegada não tem nada a ver com volume). Guitarristas: comprem amps de no máximo 15 w. Eles vão distorcer com um volume baixo e são bem menores pra carregar. No meu ponto de vista o batera é o elemento principal. Se ele tocar baixo, todos o seguirão. O volume ideal é quando todos se ouvem claramente em qualquer parte do palco. Assim podemos priorizar a voz no retorno e pro baterista um pouquinho de cada coisa. Assim podem-se explorar as minúcias da dinâmica e os mil recursos que a bateria oferece. O volume para o público fica por conta do PA. Acho que isso funciona bem dessa maneira. Sem falar que tocar alto demais causa surdez irreversível." (Diogo Farias)

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"Passei por inúmeros amplificadores gigantes, achando que quanto maior a potência, melhor eu seria escutado. Mas, pelo menos pra mim, acho que encontrei a saída. Um bom microfone e um bom amplificador resolveram o problema. Não se trata de equipamento de marca, mas, equipamento que seja amigo da gaita. Como o microfone tem altíssimo ganho, o amplificador responde com feedback. Se você tem um mic legal (indico os usados por gaitistas profissionais, com cápsulas Shure e Astatic, não os vendidos em loja e, sim, os antigos), basta procurar por um ampli, preferencialmente, de baixa potência e valvulado que te possibilite aumentar o volume, sem perder a gordura do timbre e a nitidez do som. Acho que não se trata, exatamente, do que o guitarrista tem que fazer quando tem um gaitista na banda. Isso poderia acontecer com qualquer outro instrumento de destaque que não tenha a característica de ser rítmico, como é o caso da gaita e outros instrumentos de solo. Na minha experiência, isso aconteceu quando guitarra e gaita se chocavam, porque um ou outro não respeitava o espaço de cada um. O lance é se misturar na música, ao invés de parecer um intruso. Respeitar a música e os músicos que tocam juntos. Daí, naturalmente, se criam os espaços para os demais instrumentos se destacarem." (Uirá Cabral)

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"Um problema que eu vejo é que, geralmente, um da banda aumenta e todo o resto segue. E como a gaita é a primeira a dar microfonia, ela leva a pior. Para resolver, só escolhendo músicos que consigam tocar bem, sem ter que aumentar demais o volume. O palco é um espaço social, e onde se junta um monte de gente. Para tudo fluir legal, é bacana que haja certa cortesia entre todo mundo." (Leonardo K. Shikida)

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"O que falta em alguns músicos é a consciência de grupo. SE o guitarrista TEM consciência de que a harmônica fala com o volume limitado pelo seu amplificador (ou pelo máximo possível antes de ocorrer microfonia), então, ele vai aumentar o volume da sua guitarra até a banda estar com volumes emparelhados. Outra forma de começar o problema pode ser no caso de o guitarrista ter um amp muito potente e deseje alcançar as distorções do amp, desse modo, ele vai elevar o volume de sua guitarra, despreocupado se ele estará emparelhado em volume com a banda ou não. Uma solução, para isso, é o guitarrista fazer um "Serrano Amps 36", que possui chave de potência que faz com que o amp utilize 4 válvulas na saída, ou apenas 2 se assim desejar (18w ou 36w), adequando, assim, o volume (com timbre) do amplificador ao tamanho ambiente. Justiça seja feita, os gaitistas não estão livres de sofrerem da "falta de consciência de grupo" também...impondo uma gaita com 50w rms, numa caixa 4x10, quando o guitarrista tem apenas uns 15w, num cubinho com 1x12. Instrumentos e aparelhos não são o problema, usuários sim." (André Serrano)

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"Há muito tempo, caiu a idéia de que pequenos amplificadores valvulados dariam o melhor som para os gaitistas. Não é por que a gaita é pequena que os nossos amplificadores também devem ser. Só consigo me adaptar a amplificadores grandes como: Bass Man 59 (Fender), Victory Head 45 (Serrano Amps). Diminui, bastante, meus problemas de volume usando esses amps. Quando eles ainda ocorrem, muitas vezes, não é devido ao volume, e olha que, em minha opinião, não se deve ter medo de abrir o volume de seu amp. A gaita exige isto, funciona diferente de uma guitarra, nunca se ache demais. Uso um pedal de volume para ter a segurança de que não vou incomodar e estou sempre com o mesmo fechado quando não toco. Quando não estou executando a gaita, meu mic aberto pode captar o som dos outros instrumentos. Mas, de qualquer forma, observe o uso dos graves. Tocar uma gaita sozinha no palco, amplificada com os graves, falando bem, é lindo, mas, quando a banda entra vai embolar e sumir. Então, tocar sozinho é uma coisa, tocar com a banda é outra. Observe e abra médio e agudo e feche o grave até que microfonias de grave desapareçam e você se sobressaia novamente. Essa dica também fará com que sua vida ao lado de um guitarrista seja bem mais tranqüila. São instrumentos com a mesma linguagem e linha de raciocínio. Quando duas guitarras tocam juntas, cada uma tem que fazer seu papel, com a gaita não é diferente. Se usar regiões graves, é interessante que o guitarrista faça o oposto e vice-versa. Por isso, tocar Jump Blues facilita a linguagem da gaita. Acordes ricos e suaves, em uma região aguda da guitarra, se contrapondo a melodias simples e objetivas na região grave de uma gaita. Por este mesmo motivo, acabo usando mais a terceira oitava, por exemplo, ao tocar rock, já que, neste gênero, se usa muito a região grave das guitarras. Agora a dica final é: Dinâmica e equilíbrio são fundamentais para qualquer banda." (Leandro Ferrari) 

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"Na realidade, hoje, sempre quando passo o som, timbro a gaita, primeiro, logo em seguida, vejo se o volume está de acordo com a banda. Obviamente, que peço gaita no retorno, se não, sem chance, a banda vai me engolir, com certeza. Vale ressaltar que toco com um bassman 59, então, obtenho um volume legal com o grave que eu quero, mas, quando toco com ampli pequeno, é um Deus nos acuda! Estou falando de palco, com um tamanho razoável, não um boteco. Algumas bases de guitarra, realmente, não proporcionam uma cama legal para solo de gaita. No meu caso, procuro mostrar para os guitarristas que tocam comigo, bases de guitarristas que acompanharam os mestres Sonny boy II, Little Walter, Horton etc... Se você tem uma base de acordo com o estilo que você se propôs a tocar, aí as coisas ficam fáceis. O que acontece é que as maiorias dos heróis da guitarra não tinham gaitas em suas bandas, então: a maioria dos guitarristas escuta quem? Os heróis da guitarra. Então, é obvio que eles não conheçam bases para tocar com gaitistas. Eles não são culpados, a nossa obrigação é fornecer um material para eles conhecerem e, assim, a vida segue. Por isso, tem uma grande diferença do meu show com minha banda e com bandas de outras cidades. Bom, não sei explicar em termos de acordes e quais os acordes certos pra se tocar, o que te posso falar é, na musica 'Keep It to yourself', que toquei no SESC Pompéia, o Danilo fez a base de guitarra do Sonny boy II, aquilo me ajuda muito, veja o vídeo" (Robson Fernandes)


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"Há uma consideração muito importante sobre “massa sonora”, no caso de haver um quarteto (baixo, bateria, guitarra e gaita). Perceba que a gaita responsabiliza-se pelo solo e a guitarra pela base e também solo. Quando um gaitista está solando, o guitarrista ainda preenche a massa sonora que, nesse momento, é constituída de quatro instrumentos tocando simultaneamente. Contudo, quando um guitarrista para de fazer a base e parte para um solo (em um quarteto), a gaita ou gaitista, com toda versatilidade que possui, dificilmente fará uma base como a de uma guitarra ou de um piano e, portanto, não somará tanto na massa sonora, que nesse instante (solo de guitarra), pode-se dizer que é formada por apenas três instrumentos. Essa situação favorece muito os guitarristas e também é por esse motivo, que, numa banda com gaita, sugere-se haver mais dinâmica e ter o cuidado de trabalhar com os instrumentos em regiões diferentes. Percebam no vídeo do Junior Wells abaixo que a maior base da música é composta por bateria e Baixo. As intervenções de Buddy Guy na guitarra são mínimas, sempre explorando Riffs com notas curtas." (Luiz Rocha)


CONTINUA...