segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

A AMPLIFICAÇÃO DA HARMÔNICA (PARTE 2)

MODOS DE AMPLIFICAÇÃO

Estas são as duas formas mais comuns de amplificar a gaita:

MODO 1 - Captar o som natural do instrumento;

MODO 2 - Utilizar equipamentos como amplificadores e microfones específicos (projetados ou não para o instrumento), que, em conjunto, modificam o seu som natural, resultando em timbres mais robustos, sujos e encorpados.

Repare no vídeo abaixo como o Sugar Blue inicia a música no modo 2 com seu mic tipo bullet com cápsulas de alta impedância, plugado num amplificador. Apesar do som não alterar tanto as características sonoras e timbres de uma gaita, ainda assim, é diferente do som natural do modo 1, que aliás, ele também explora tocando num microfone comum de voz, como é possível perceber mais adiante no mesmo vídeo. Logo em seguida, veja um vídeo do gaitista Mark Ford tocando com um som mais "quente" e aveludado, explorando o modo 2.




A escolha do modo 1 ou modo 2 varia de acordo com gosto, sensibilidade e/ou opção disponível. Na verdade, até mesmo técnicos de som experientes às vezes podem desconhecer o modo 2. É comum algumas pessoas estranharem, achando que "o som está grave demais" ou "está meio abafado", quando a proposta é exatamente esta: explorar frequências graves e médio-graves para deixar o som mais encorpado, como no vídeo do Mark Ford. Os famosos microfones tipo "Bullet" funcionam melhor quando utilizados com amplificadores (principalmente valvulados), seja tocando com banda ou numa formação mais reduzida, mantendo a sonoridade "elétrica" como no vídeo do Kim Wilson à seguir.



EXPLORANDO O MODO 1 (Som limpo)

Então, agora vamos aprofundar mais no modo 1, que significa extrair o som mais natural do instrumento. Comecemos então pela ciência que existe sobre a maneira de se utilizar um microfone dinâmico com monitores de retorno de palco, como um SM-58 diretamente plugado na mesa de som que sai para o P.A. Desta maneira, podemos destacar duas formas de segurar o microfone que exigem equalizações diferentes:

a) deixando-o preso ao pedestal e tocando próximo ao seu campo de captação;
b) segurando e envolvendo o microfone com as mãos;

Já lhe aconteceu de ficar satisfeito com seu som na passagem de som individual, e quando toca com a banda inteira, parece que o som da gaita quase desaparece? Surge uma dificuldade em se ouvir, e logo em seguida, as indesejadas microfonias. E geralmente ao não se ouvir bem, o gaitista se aproxima mais e mais do microfone, até precisar envolvê-lo com as mãos na esperança de conseguir se ouvir melhor. Às vezes isso não termina bem quando a equalização do mic para voz é muito diferente das necessidades da gaita. Assimenvolvê-lo com as mãos amplia a possibilidade de realimentar e também ressaltar frequências indesejadas. Nada se pode fazer quando o volume do som da banda no palco está mais alto do que o limite de volume da gaita. Por isso a passagem de som, sensibilidade e dinâmica dos músicos é de extrema importância.

Existem técnicos de som que costumam estranhar e ate criticar a atitude de abafar a capsula do microfones com as mãos. Particularmente não vejo nada de errado nisso, desde que o mic esteja equalizado para tal modalidade de uso. Tocar desta forma apenas pode exitar algumas frequências indesejáveis e o técnico precisará cortá-las, desde que tenha experiência para identificar as frequências corretas; desde que disponha de equipamento que proporcione os cortes necessários. Não é uma regra, mas, geralmente quando o mic está equalizado para vocal, e se quer tocar a gaita no mesmo mic, é mais aconselhável não envolvê-lo com as mãos, pois isso aumenta o risco de gerar microfonias e ficar com volume tão alto que incomode os ouvidos de qualquer um. 

a) Microfone no pedestal


b) Microfone nas mãos

Uma dica para evitar microfonias é entender e respeitar as características de diretividade de cada tipo de microfone. Os mics podem ser cardioides, supercardióides, omnidirecionais, bidirecionais, unidirecionais. 

Mics “Cardióides” têm seu ângulo de rejeição sonora mais forte em 180º, isso quer dizer que captam sons de forma direcional, concentrando-se na fonte de som principal e rejeitando ruídos de fundo. Aconselhável colocar monitor de retorno atrás deste tipo de mic. Assim há menos chances de realimentar. Exemplos de mics Cardióides: Shure Sm-58Sennheiser E835AKG D-770, Lesson Sm-58 e o Behringer Ultravoice XM-8500. Existem outros, e cada um desses possui um gráfico característico da curva de resposta, traduzindo sua sonoridade, timbre, e tornando o microfone melhor ou pior para uma determinada fonte de som. A marca Shure é praticamente considerada a mais famosa e de muita credibilidade, mas existem outras marcas alternativas que produzem ou já produziram um mic com curvas de freqüência que podem ser indicadas para harmônica, como a Electro-Voice.



Já os microfones "Supercardióides" têm um maior alcance frontal e seu maior ângulo de rejeição ao som é de 120º, ficando melhor posicionar monitores de retorno nas laterais-trazeiras do mic. Exemplos deste tipo de mic é a série "Beta" da Shure (Shure beta SM-58) e o Sennheiser e945.



MICROFONE NO PEDESTAL

Desta forma, utiliza-se o mic fixo no pedestal. Isso permite liberdade ao gaitista de utilizar as mãos para executar efeitos como surdina e "wha wha" mais expressivos. Nesta modalidade, torna-se necessário utilizar mics com bom alcance de captação ou, então, compensar esta necessidade aumentando o volume, o que deixa o mic mais sensível. Dessa forma, num palco com banda, os músicos precisam ter muito mais dinâmica, caso contrário, o gaitista poderá não se ouvir tanto, e por instinto, chegará mais perto, às vezes, sentindo necessidade de envolver o mic com as mãos para ganhar mais volume. E como já dissemos, não estando devidamente equalizado para tal, pode haver microfonias e alterar o timbre, ficando com volume muito alto no P.A. Tocar no pedestal é mais utilizado em shows em formatos mais acústicos, tipo voz violão e gaita, mas não é regra. Microfones aconselháveis para essa necessidade são aqueles que têm maior campo de captação se comparado com outros. Portanto, se o som da banda for mais intenso, pode ser mais vantajoso equalizar o mic para segura-lo com as mãos.

SEGURANDO O MIC DINÂMICO COM AS MÃOS

Tocar gaita envolvendo o mic com as mãos (lembre-se que estamos falando do modo 1 - som limpo) normalmente eleva frequências médio-graves, principalmente o volume, engordando mais o som sem perder o timbre natural da harmônica, que permanece com seu som "limpo". Existem hoje alguns mics específicos para se tocar com o instrumento desta maneira, como o Audix Fire Ball V, mas é possível fazê-lo com mics mais comuns usados para voz. Assista Snooky Pryor!!!


Apesar de se ganhar mais liberdade, facilitando a movimentação do gaitista, essa forma de segurar o mic dificulta muito o "efeito wha wha", que é tão característico do instrumento e bastante utilizado na concepção de "gaita acústica". Neste caso, é bom que o gaitista tenha outros truques na manga ou deixe outro microfone equalizado para uso no pedestal. Como já dissemos, envolver o mic com as mãos é muito mais fácil de excitar microfonias (para desespero de alguns técnicos), precisando atenuar frequências, geralmente, entre 800 hz e 4Kz, embora isso varie. 

ALTERNATIVAS DE EQUALIZAÇÃO

Para ter mais autonomia em sua equalização, pode ser interessante utilizar pedais equalizadores ou pré-amplificadores para você mesmo efetuar cortes necessários, notadamente, se a mesa de som possuir apenas mixers (botões de controle de grave, médio e agudo). Ao utilizar estes pedais, aconselha-se sempre atenuar frequências. Em minha limitada experiência com pedais, utilizei muito o GE-7 da Boss e o V-Tone Acoustic ADI 21 da Behringer, sendo este último para dar uma "engordada" no som. Alguns gaitistas preferem não optar por tais recursos, porém, pode ser interessante experimentar tudo que você puder, levando em conta que nenhum dos pedais citados foi desenvolvido para harmônica e me agradaram. 

Porém, é preciso lembrar que esses microfones e pedais não fazem mágica. Antes de tudo, é preciso amadurecer sua técnica, seu timbre. 

CONTINUA...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A AMPLIFICAÇÃO DA HARMÔNICA (PARTE 1)

1 - INTRODUÇÃO

Verdade seja dita: há um grande número de pessoas que toca harmônica e tem dificuldades em amplificá-la. Até operadores de som e técnicos de áudio experientes, por vezes, desconhecem a capacidade sonora da gaita, e não equalizam nem mixam de maneira que realmente valorize o instrumento na gravação ou apresentação ao vivo. 

É importante que, ao amplificar o som da harmônica (seja na hora da apresentação em palco ou gravação em estúdio) haja uma parceria entre o técnico e o músico. Minha proposta é explorar elementos que ajudem ambos a amplificar a harmônica de forma digna; a extraírem dela suas potencialidades sonoras, evitando estridências, opacidade, volume baixo e principalmente feedbacks, mais conhecidos como "microfonias" ou "realimentação" (maior pesadelo dos gaitistas). 

Quero ressaltar que não me especializei no assunto, apenas tenho curiosidade e vontade de reunir informações úteis nesse sentido. Existem diversas combinações de equipamentos para amplificar a harmônica utilizados em diferentes contextos. Escolher o equipamento que mais se adeque ao seu som não é tarefa tão fácil. Requer experiência, muita experimentação e consciência da sonoridade que se quer atingir. Já pensou nisso? Qual a sua referência de som de gaita? Você tem uma?

Há grande confusão sobre qual microfone usar em determinado tipo de música e como usá-lo, segurá-lo; dúvidas sobre plugar direto na mesa (P.A) ou num amplificador; qual tipo de amplificador? Por exemplo, só porque um microfone tipo bullet* é definido como "um microfone de gaita", não significa que o mesmo foi projetado para se utilizar em todo e qualquer contexto. Então espero estar esclarecendo detalhes sobre este tema.

bullet*: aqueles microfones bojudos do tamanho de uma bola de tênis comumente utilizados por gaitistas de blues.




2 - FATORES QUE CONSTROEM O TIMBRE

Quando dois instrumentos como uma guitarra e uma sanfona executam a mesma nota, ouve-se "timbres" diferentes. A definição sonora também é causada pela forma como cada pessoa toca seu instrumento. Sendo assim, se duas pessoas tocarem o mesmo riff na mesma harmônica, ouviremos "timbres" diferentes, principalmente, porque esse instrumento não possui uma caixa de ressonância, sendo o próprio tocador responsável por isso. Para se alcançar um timbre mais maduro* na modalidade de harmônica amplificada é necessária uma combinação de fatores: a) equipamentos adequados; b) experiência para manuseá-los; c) a estrutura corporal do instrumentista influencia no som que ele produz, isto é, a intensidade de seu sopro, a sua embocadura, o tamanho de sua boca, a posição da língua, a contração dos músculos da garganta, a maneira como se segura o instrumento, enfim, não é só o tipo de equipamento. Cada situação, cada sala, cada equipamento de som possui uma particularidade que influencia na adição ou cortes de frequências. Só a maneira como se segura a harmônica e o microfone já influencia notadamente no timbre.

Timbre maduro* - extrair do instrumento as possibilidades que o mesmo oferece

3 - POSSIBILIDADES SONORAS 

Existe grande diferença entre tocar gaita de forma "limpa" (popularmente chamado de "acústico" ) e "suja" (eletrificada). A harmônica tomou novo rumo, desde o final da década de 40, com a eletrificação, quando gaitistas de Chicago e Memphis passaram a usar um microfone plugado num amplificador valvulado como o Masco MA 17 Tweed 1940 na foto. Desde essa época temos grandes referências que mostram que a "gaitinha" pode ser instrumento principal de uma banda apesar de muitos a tratarem como mera acompanhante da guitarra ou algo assim. Não se grava uma guitarra de jazz da mesma forma que uma guitarra de rock. O equipamento e a regulagem são completamente diferentes, e na gaita, acontece o mesmo.

4 – DICAS: UTILIZANDO MICS NORMALMENTE USADOS PARA VOZ

Um gaitista profissional possui normalmente sua maleta ou estojo com vários tipos de gaitas em diversas afinações e cada uma delas apresenta uma freqüência sonora diferente (sons mais agudos ou mais graves). Normalmente, um gaitista troca de gaita por música, enquanto outros instrumentistas permanecem com o mesmo instrumento. As gaitas nas afinações G (Sol), A (Lá) e Bb (Si bemol) possuem sons mais graves, e as de D (Ré), E (Mi) e F(Fá) são mais agudas, principalmente, a de F (Fá). A gaita em C(Dó) é um meio termo, então, sugiro passar o som com esta. Você também pode usar gaitas mais graves e tocar riffs, desde a região aguda até a região mais grave do instrumento. Dessa forma, já apresenta ao técnico de som as possibilidades sonoras do instrumento. Pode ser uma gaita em “Lá”, por exemplo, fazendo riffs com orifícios dois e três aspirados, que, por sua vez, possuem menos volume, depois, intercalar com a região média, tocando os orifícios quatro e seis aspirados, para verificar se a equalização não está aguda demais. Veja o gaitista Sugar Blue no vídeo, utilizando (talvez) uma gaita barítono afinada em dó. Ele passeia pelas 3 regiões da gaita e encontra um ponto onde o técnico pode cortar o excesso de uma freqüência que retroalimentou e ainda não havia sido notada.