CONSIDERAÇÕES BÁSICAS NA ESCOLHA DE UM MICROFONE
Olá, gaitistas! Nesta postagem trago uma rápida abordagem sobre os cuidados e conhecimentos que se deve possuir na aquisição de um mic de forma consciente. É preciso pensar muito antes de comprar um microfone e para facilitar essa escolha seguem quatro considerações básicas que devem ser observadas:
A) Impedância (Hi-Z ou Low–Z)
B) Princípio de operação (elemento – dinâmico, cristal, Cerâmica, carbono)
C) Resposta em freqüências
D) Diretividade.
Nesta postagem falarei sobre os tópicos "A" e "B" acima.
A) Impedância
A impedância elétrica (ou simplesmente impedância) é a oposição que um circuito faz à passagem de corrente elétrica. Ela é medida em “Ohms”, e seu símbolo é uma ferradura (Ω), símbolo originário do alfabeto grego, indicativo da letra Ômega. O nome é uma homenagem ao físico alemão George Simon Ohm, quem primeiro descreveu estes fenômenos no início do século XIX. A impedância de saída de um microfone pode ser: alta (> 10.000 ohms / 10K), média (1.000 – 4.000 ohms) ou Baixa (150 – 600 ohms). Os pré-amplificadores para microfones (as entradas para microfones) devem possuir impedância em torno de 10 a 20 vezes maiores que a impedância de saída do microfone. As impedâncias dos microfones, atuais, variam entre 50 e 600 Ohms (baixa), assim sendo, os pré-amplificadores devem ter impedâncias de entrada em torno de 3.000 Ohms. Existem alguns pré-amplificadores que possuem seleção da impedância de entrada variando entre 50 a 600 Ohms (valores referentes às impedâncias das fontes). A vantagem disso é o melhor desempenho para cada microfone utilizado. Quando um mic de alta impedância é plugado numa entrada de baixa, haverá uma perda de aproximadamente 6db no nível do sinal.
Todo material apresenta impedância em maior ou menor grau. Materiais condutores apresentam uma baixa impedância, ou seja, são facilmente atravessados por corrente elétrica por possuírem poucos Ohms de resistência, enquanto materiais isolantes apresentam milhares (k=indicativo de mil) de Ohms de impedância. A letra “Z” é indicada para representar a impedância elétrica. Encontramos em Direct Boxes e em alguns cubos para instrumentos, conexões chamadas de “High Z” e “Low Z”, indicando conexões para equipamentos de alta impedância e de baixa impedância.
Os microfones “Low–Z” normalmente são preferidos pela maioria dos músicos e técnicos. Porém os “Hi-Z” são, até hoje, os mais procurados pelos gaitistas. Não se sabe ao certo até que ponto pode ser verdade, mas, alguns gaitistas e técnicos afirmam que, cápsulas Low-Z, permitem uso de cabos longos sem grande captação de ruídos e perdas nas altas freqüências. Sob o ponto de vista da impedância, isso nos leva a raciocinar que cápsulas “Hi-Z” seria o contrário, ou seja, justamente o que afirma a página do “winkpedia” referente a microfones, no tópico “especificações”:
“Impedância: Representa de certo modo a sua resistência interna. Na aproximação mais simples deste conceito percebe-se que nos microfones de baixa impedância, inferior a 600 ohms, permite a montagem de cabos de grande comprimento (como 100m ou mais) sem perdas de sinal significativo enquanto nos mics de alta impedância com valores na ordem de 5000 ohms, em cabos com mais de 3 metros já ocorrem perdas significativas”.
Em outras fontes também é possível encontrar até a suposta explicação para isso:
“A resistência encontrada para a passagem do sinal elétrico faz com que ele perca potência a medida que trafega no condutor. Esta perda é chamada de atenuação e é medida em decibéis (dB). Quanto maior for o comprimento do condutor (cabo) maior será a atenuação visto que mais resistência tem que ser vencida”.
Contudo, alguns profissionais também experientes no assunto, contradizem essa informação, acreditando que na verdade, gaitistas tem menos microfonias com cabos mais longos apenas por que estes possibilitam distanciar-se mais do amplificador. André Serrano, conhecido por sua engenharia de alta qualidade nos famosos amplificadores Serrrano, diz que é duvidoso afirmar que cabos longos cortam freqüências altas. Segundo ele, o que influencia não é exatamente o comprimento de um cabo, mas sim a sua qualidade. Cabos ruins não atenuam apenas os agudos, e sim, todo o sinal e de maneira não seletiva. Ele ainda acrescenta que ao cortar somente as freqüências agudas, o cabo fornecerá som “fanho” sem brilho, mas, ainda sim, poderá reproduzir a faixa de médio-agudos que certamente irão ocasionar feedbacks.
Mas o que seriam bons cabos? Quais os critérios de seleção de um “bom cabo”? Existiriam ainda critérios para selecionar um “bom cabo para gaitistas”? Convido os leitores deste blog a postarem suas opiniões em “comentários”. As melhores respostas serão selecionadas e divulgadas na próxima postagem.
O maior motivo na escolha dos mics está relacionado ao seu “princípio de operação”.
B) Princípios de operação
Pode-se afirmar que é extremamente complicado, trabalhoso e dispendioso alcançar o timbre ideal. Existem gaitistas com anos de experiência e que ainda não o fizeram. Pode-se simplesmente utilizar os mesmos acessórios que os mestres utilizavam, e, ainda sim, não alcançar os mesmos resultados. Podem-se explorar novos caminhos (diferentes combinações de microfones e amplificadores), contudo, não há dúvidas de que nas duas opções é saudável compreender os princípios de operação de um microfone, que determinam como ele captura o som acústico e o converte em sinal elétrico, ou seja, saber como funciona o seu “Transdutor”, pois isso influencia bastante no timbre. Existem vários tipos de transdutores: Piezoresistivos (carbono), Piezoelétricos (cerâmica ou cristal), Eletromagnéticos (imã móvel), Eletrodinâmicos (bobina móvel), Eletrostáticos (condensador e eletreto). Os microfones mais populares para gaita utilizam elementos Piezoelétricos e Eletrodinâmicos. Os primeiros (elementos de cristal e cerâmica) possuem sonoridades parecidas e uniformes.
Transdutores Piezoelétricos – Elementos de Cristal e Cerâmica:
Os transdutores piezoelétricos podem ser encontrados em diversos formatos e com muitas aplicações práticas possíveis, seja na forma direta de pastilhas ou no caso dos microfones, na forma de “cápsulas”. Geralmente, o que muitos dizem é que para gaita, mics com elemento de cristal respondem com um som mais limpo enquanto os de cerâmica proporcionam um som mais seco e grave. O problema das cápsulas de cristal é que se expostas a uma temperatura igual ou superior a 55º, perde-se todas as suas características permanentemente. Num ato de vacilo, ao deixá-lo dentro do carro num dia quente, a cápsula perde todas as suas características, simplesmente morre. Portanto são muito sensíveis ao calor e a umidade. Com um pouco de sorte, cuidando bem de um mic com elemento de cristal, ele durará por uma década ou pouco mais. Vivendo num clima muito quente ou úmido, essa cápsula pode não ser a melhor escolha. Muitos gaitistas consideram o som dos mics de cristal simplesmente inigualáveis e estão dispostos a pagar esse preço (a fragilidade).
Vários modelos de mics utilizaram elementos de cristal como os Shure 705A "Rocket" (1938), Shure 7A (1939) e o Shure 18-51 conhecido como “Brown Bullet” (1940). Na verdade os Shure de cristal têm fama de serem ainda mais frágeis que os Astatic de mesmo elemento, e por conseqüência disto, são mais raros de se encontrar. O elemento Cristal também é encontrado em muitos mics “Turner”. Também há alguns modelos da Electro-Voice, porém, o fabricante mais conhecido pela utilização deste elemento foi o Astatic JT-30 com a cápsula MC-151, provavelmente, a cápsula mais popular. A Astatic fabrica o modelo JT-30 a mais de 50 anos e começou fabricando microfones para estações de rádio, como o primeiro da série, o D-104 que logo se tornou o preferido pelos operadores de rádio por sua alta freqüência de resposta. Confira o primeiro anúncio deste mic clicando aqui. Quando Muddy Walters popularizou a amplificação do blues no final da década de 40, isso fez com que os gaitistas se atentassem para uma nova forma de amplificar a harmônica. O JT-30 tem sido o mic padrão no estilo de amplificação blues harmônica desde sua utilização por Little Walter na gravação da faixa “Juke”, que foi um de seus maiores sucessos.
Eis um link para se conhecer um pouco sobre Little Walter.
Veja também a gravação da música “Juke” por Flávio Guimarães, um dos mais importantes gaitistas do Brasil. O próprio vídeo já possui todos os créditos.
Litlle Walter usou o JT-30 com elemento de cristal em algumas performances e gravações. Nos anos 30 (primeiros anos da Astatic), a cápsula utilizada neste mic era a CM-121 que também era muito popular. A maioria dos Astatic JT-30 é de cristal, mas alguns modelos foram fabricados com cerâmica, material muito mais resistente a tombos e climas extremos.
Há um fato um tanto curioso. Nos anos 80 houve um acidente na fábrica Astatic e os moldes da cápsula de cristal MC-151 foram danificados, o que acarretou na fabricação deste tipo de cápsula utilizando os moldes da MC-127 de cerâmica. Por isso é possível comprar cápsulas que sejam vendidas como MC-151, mas que possuam carimbados no metal a especificação MC-127 sob uma vinheta “MC-151”. Os moldes da “MC-127”, desde o acidente, foram utilizados para a fabricação de ambas as cápsulas.
Enfim, muitos gaitistas ainda preferem o elemento de cristal. O modelo JT-30 foi relançado pela Hohner recebendo o nome de “Hohner Blues Blaster”, sendo fabricado pela mesma empresa, mas com um material distinto. Inicialmente, foi utilizada a antiga cápsula MC-151, sendo mais tarde, substituída por outra de diâmetro menor, e, que segundo opinão da maioria dos gaitistas, é de qualidade muito inferior.
http://i41.photobucket.com/albums/e267/bluesharp/Micros/MC151.jpg
Transdutores Eletrodinâmicos – Bobina móvel
Os mics de bobina (eletrodinâmicos) começaram a ser utilizados em meados da década de setenta e são fabricados até hoje com o mesmo princípio de construção de um alto falante. Existe ímã, bobina e diafragma, que faz o papel do cone do falante. Pode-se dizer que são como alto-falantes que no lugar de gerar sinais, os capturam, ou seja, “um auto-falante ao contrário”. Os microfones dinâmicos são famosos pela sua resistência e confiabilidade. Exigem pouca ou nenhuma manutenção regular e, com cuidados razoáveis, manterão o mesmo desempenho por muitos anos. Eles são extremamente duráveis se expostos a condições que definitivamente matariam um elemento de cristal. Existe uma infinidade de mics com elementos “eletrodinâmicos” (dinâmicos) específicos para amplificar o som da harmônica. O mais popular é o “Green Bullet”, que nos anos 50, possuía um elemento chamado CR “Controlled Reluctance” com produção americana. Em meados da década de 60, quando passaram a ser fabricados no México, surgiram outras cápsulas denominadas “CM” ou “Controlled Magnatic” ainda de alta impedância e com uma sonoridade pouco menos forte do que as CR. Nos anos 80, houve mudanças desde o projeto original desses mics, quando foi implementando controle de volume e trocado as antigas CM por uma cápsula dinâmica com transformador de impedância, nascendo assim o Green Bullet “520DX”. Essa é uma das razões pela qual há uma maior procura pelas cápsulas “vintage” que, segundo os gaitistas mais exigentes, possuíam uma melhor resposta para gaita. Lembrando que existem excelentes microfones dinâmicos com transformador de impedância utilizados para microfonar a Harmônica, porém a maioria dos gaitistas experientes afirma que o 520DX não é um deles.
PRÓXIMA POSTAGEM: História mais detalhada dos “Green Bullets”
Abraço a todos!
Luiz Rocha