Continuo postando este assunto que é de grande interesse dos que estão se aventurando na amplificação da harmônica! Tenho procurado abordar esse tema da forma mais detalhada que eu puder a fim de contribuir na criação de uma página que disponha de informações que geralmente só são encontradas na web de forma muito fragmentada. Esta é a terceira parte da série "A AMPLIFICAÇÃO DA HARMÔNICA". Espero que o conteúdo possa ser útil. EQUIPAMENTOS ALTERNATIVOS E "TIMBRES HÍBRIDOS"
Há uma série de microfones específicos (ou não) pra a gaita, e cada um deles produz um som característico que pode ser mais usado num determinado estilo musical em detrimento de outro. Se você quer tocar Jazz ou Country, por exemplo, é preferível explorar a forma acústica de amplificar o instrumento, utilizando mics dinâmicos, o que equivale ao "modo 1" comentado na postagem anterior. Se a sua preferência é blues tradicional de Chicago, prepare-se para investir em mics de alta impedância do tipo "bullet", com cápsulas modernas ou vintage e amplificadores (resistores ou valvulados), o que abordarei em outras postagens. Há a opção de se atingir timbres diferenciados que, embora não seja objeto de interesse de gaitistas de blues tradicional, não deixam de ser uma opção interessante. É o caso dos "timbres híbridos", que fogem aos padrões de sonoridade do blues clássico, mas que ainda podem ser aplicados tanto ao blues quanto uma série de outros gêneros musicais. Veja por exemplo esse vídeo do gaitista Carlos Del Junco e perceba as peculiaridades deste som que se destaca pelo timbre encorpado.
Há muitas possibilidades e por isso vou contar um pouco de minha experiência e trajetória com amplificação da harmônica. Por favor, não interprete que eu esteja indicando esses equipamentos à seguir, pois estou apenas contando o que usei e experimentei no decorrer do tempo. Passei por diferentes equipamentos antes de chegar ao set que mais tenho usado atualmente com mic bullet, pre-amp e amp valvulado.
DESPERTANDO O INTERESSE PELA AMPLIFICAÇÃO
Comecei a me interessar mais pela amplificação quando vi um show da banda de blues soteropolitana "220 Volts" no final de 2003. Eu estava buscando conhecer músicos de blues com quem eu pudesse trocar ideias, e descobri essa banda liderada pelo amigo guitarrista Ícaro Britto. Havia um gaitista chamado Yberê Camargo que integrava este trabalho. Ele me influenciou a amplificar o som da gaita e a escutar grandes nomes do blues de Chicago desde os veteranos Little Walter, James Cotton, Junior Wells aos mais modernos como Sugar Blue. Yberê tocava num amp Laney TF-100, onde plugava um mic Green Bullet 520 DX. Saí correndo para a uma loja de instrumentos e investi no meu primeiro amp, um Laney Tube Fusion TF50 (um amplificador menor de guitarra com falante de 10’). Nele eu plugava meu primeiro microfone, um Shaker Madcat, que oferece um design moderno, prático, confortável de segurar, e é projetado para privilegiar efeitos de mão. Nunca consegui timbrar esse mic do jeito que eu queria. Ele tem um som magro, puxado para médio agudo, coisa que nunca gostei, embora admirasse os sons que o gaitista Peter Madcat Ruth tirava com esse tipo de mic.
O som que eu tirava era magro, dava microfonia, então recorri a alguns pedais equalizadores, achando, inocentemente na época, ser esta a solução para conseguir algo parecido com os timbres robustos dos gaitistas de blues de chicago que usam bullets em amps valvulados. Inocência, né?! Passei um bom tempo quebrando a cabeça tentando alcançar um timbre mais encorpado com este mic e amp, e nunca consegui nada que me agradasse tanto, até cair a ficha e perceber que esse casamento não me levaria ao tipo de som que eu buscava. Contudo, até perceber isto, acho que fiz milagres utilizando pedais para tentar modificar o som do Shaker Madcat no Laney TF-50. Primeiro adquiri um pedal equalizador GEB-7 da Boss e nele, aumentava todas as frequências médio-graves, além de deixar o amp com o botão de médio no zero e o agudo no mínimo. Eu queria engordar e aveludar o som na marra! (risos)
Mais adiante, após testar outros pedais, meu set consistia em plugar o Shaker Madcat num equalizador V-tone Acoustic ADL 21 da Behringer, com saída para o GEB-7 da Boss, e por fim, chegava ao Laney tube Fusion TF-50, plugado com um transformador de Impedância (ainda falarei mais sobre isso). O pedal Behringer possui alternativa chamada “Blend” que lembro que dava uma boa engordada no som quando ativado um circuito embutido de "emulação de válvulas". Pra mim foi o melhor timbre que consegui naquela época (2006) com os equipamentos que eu tinha até então. Então descobri um cara que vendia microfones tipo bullet caseiros, feitos com cápsula de telefone, alternativa que encontrei por não poder investir em um mic bullet original com cápsula vintage de alta impedância. Meu melhor timbre com os pedais e amp Laney que eu usava veio quando passei a usar esse mic ou um microfone dinâmico SM-58 da Shure. Depois de muita dor de cabeça e insatisfação com meu timbre, e uma imensa necessidade de progredir sonoramente, decidi finalmente juntar uma grana e investir num mic de verdade e um amp mais apropriado. Foi quando adquiri um Astatic JT-30 de cor cinza com cápsula CM, e um amp de alta qualidade da Loester Amps. Mesmo com o novo mic e amp eu ainda fazia questão de usar os pedais acima mencionados. O único vídeo com este set que sobrou pra contar história é este de 2008...
Mais tarde precisei vender esse amp e posteriormente consegui investir num Serrano STR Harp Minihead com falante de 12’ e num mic Bullet Shure CR, com timbre bem encorpado, mantendo os mesmos pedais já mencionados para alguns cortes de frequências. Discorrerei mais sobre estes equipamentos em outros posts.
"MIC-5" DA HERING HARMÔNICAS
Após adquirir um Serrano Amps e ter experimentado o poder de um mic de verdade, decidi fazer algumas experiências. Esse set tinha um som blues clássico que não era apropriado para o tipo de som que eu queria fazer. Então experimentei plugar um Mic-5 da Hering no Serrano. Esse mic foi desenvolvido pela Hering Harmônicas, numa parceria com a Lesson e o gaitista Jefferson Gonçalves, e projetado para se plugar na mesa de som e obter uma sonoridade mais limpa com nuances nos graves. Conheci o mic na Expo Music 2008. Adquiri um e realizei uma comparação com o Shure SM-58, ambos novos. Foi tirar da embalagem e plugar no Serrano, utilizando a mesma equalização para cada mic e uma gaita Bends modelo Anima em dó. Executei os mesmos riffs com cada mic, e embora ambos não tenham sido projetados para plugar num amp valvulado, esses mics não deixam de ser utilizáveis desta maneira, produzindo timbres alternativos "híbridos" e com baixa incidência dos níveis de distorção. Isso por que estes mics dinâmicos são "LOW-Z", ou seja, de baixa impedância. Quando plugados num amplificador que possui uma entrada de alta impedância (HI-Z), produzem um som mais fraco devido à perda de algumas frequências e de volume. Existem conversores de impedância(Impedance Matching Transformer)que podem ser utilizados nesses casos. Fabricantes como Audio Technica, Shure, dentre outros, produzem um adaptador que casa as impedâncias, transformando o sinal do mic dinâmico LOW-Z em HI-Z. Era inclusive o que eu usava com o mic Shaker Madcat em meu primeiro set.
Mas, voltando à comparação feita com entre o MIC-5 e o Shure SM-58, o primeiro me proporcionou mais volume. Já em relação ao timbre, o Shure SM-58 é mais clássico e tem mais brilho. Preferi o MIC-5, que depois testei com os pedais que já mencionei e consegui chegar a uma equalização além das minhas expectativas. Foi exatamente isso que usei no vídeo a seguir: MIC-5 ==>> Vitone Acoustic da Behringer ==>> Geb-7 da Boss ==>> conector transformador de impedância ==>> amp Serrano.
Segundo André Serrano (músico e fabricante dos Serrano Amps), em conversas via MSN com o mesmo:
“O Mic-5 é feito com cápsula dinâmica similar às existentes na linha de produtos Leson para voz. Isto lega ao mic a uma utilização para instrumento da mesma forma do que os microfones de mão, só que com maior portabilidade e manuseio. A característica do mic com sua cápsula dinâmica (de baixa impedância e baixo sinal) remete, então, ao uso como microfone de mão para instrumentos com sonoridade limpa a ser plugada na mesa de som de forma idêntica aos microfones de voz. Trata-se de um microfone para ‘gaita limpa’, comumente, utilizados para gêneros como jazz, clássico, popular, nacional etc. Nada impede, contudo, de o usuário experimentar plugar um mic deste tipo num amplificador valvulado com vistas ao atingimento da sonoridade blues... mas, neste caso ele não atinge nem os timbres com distorção do blues clássico e nem a limpeza e clareza de médios e agudos da sonoridade jazz. O resultado, neste caso, será um terceiro timbre, com maior nuance de freqüências médias e com uma tênue distorção.”
Conversando com o gaitista paraibano Guto Santana, ele desabafou algo muito interessante e que eu fiz questão de colocar aqui:
“Cansei de mics pesados e que muita gente usa apenas porque ‘é tradição’. O problema é que tem muita gente fazendo as coisas porque fulano também fazia, ou sicrano, mas, muitas vezes, o cara não se sente bem fazendo aquilo, não é a dele. E quando digo isso não estou me referindo a gosto pessoal”.
"FIRE BALL" DA AUDIX
Existem também outros microfones no mercado, como o Audix FireBall. Disponível nas versões com e sem volume, esse mic explora a sonoridade limpa e tem grande poder de ganho sendo capaz de aguentar níveis de som superiores a 140 dB, sem haver distorção do som. Veja um dos inúmeros vídeos da Christelle Berthon utilizando esse mic e uma exposição de seu "pedal board"
Este mic também é muito utilizado para amplificar a gaita cromática. “Acho que antes de qualquer coisa é um microfone que tenta reproduzir fielmente as freqüências da gaita acústica”, disse Guto Santana, que possui um FireBall e confessa preferi-lo ao MIC-5 da Hering. Segundo ele, em conversas pela web, a diferença deste mic para um mic de voz normal tipo SM-58 é de que o mesmo possui uma captação otimizada para as freqüências da gaita, o que significa não precisar mexer tanto no equalizador para deixar o som como você quer. “Ele dá um brilho no som também”. Talvez, o que o Guto esteja se referindo nesta frase, seja à capacidade deste mic de manter e reproduzir um som com alta qualidade, mesmo enquanto, o gaitista está realizando o "cupping" (envolver com as mãos), pois na aplicação de tal técnica, a maioria dos microfones tende a exagerar no nível de ruído ou tornar o som distorcido, o que não acontece com o Fireball. No caso deste último, opera-se como se estivesse num ambiente aberto. O Guto ainda me falou que se pode tocar com este mic no pedestal, uma vez que ele possui um cachimbo menor que vem junto na embalagem, o que pode ser observado como uma vantagem em relação ao MIC-5.
"O que acho legal desse mic é o tamanho menor dele e a leveza, embora ainda ache o globo um pouco grande pra se envolver nas mãos dificultando os efeitos de mão, também porque já estou mais acostumado com o Electrovoice RE-10, que tem uma cabeça bem pequena e super confortável. Guto disse ter um desses e não se arrepender da compra "... foi a melhor coisa que fiz. Levinho e boa parte do timbre do Carlos Del Junco é graças a esse mic".
AINDA SOBRE IMPEDÂNCIA...
Sobre impedância, o André Serrano falou uma coisa muito interessante:
“... têm alguns poucos microfones dinâmicos de voz que vem com transformador de impedância dentro do próprio corpo do microfone para ser ligado ou não...".
Ou seja, se você quiser transformá-lo em alta, basta abrir o mic e fazer essa transformação. Isso pode ser uma ótima dica para quem quer plugar esses mics dinâmicos em Amplis valvulados. Serrano conta que abriu alguns modelos de mics Lesson e encontrou tal transformador num Lesson prateado (aquele com corpo de metal) e que não encontrou ao abrir um Lesson “preto”.
SISTEMAS SEM FIO
Ainda há opção de utilizar sistemas sem fio. Olha a dica do Guto Santana no Gaita-L:
"É interessante observar que se você usar esse mesmo microfone (ou outro qualquer de baixa impedância) com um sistema sem fio, você não mais precisará do conversor de impedância. Isso porque o sinal sem fio opera já em alta impedância e o sinal de seu mic será automaticamente convertido antes de chegar no amplificador.”
E ele acrescentou:
"...de preferência, um sistema sem fio UHF (melhor faixa de freqüência) e que tenha uma base com duas antenas (que minimiza o risco de interferências). Um sistema desses custa em média no Brasil R$ 1.000. Se alguém puder trazer de fora diretamente pra você, ajudará muito. Para se usar microfones de baixa impedância com saída XLR (Cannon) posso citar o da Samson O detalhe que permite o uso desse tipo de microfone é o pequeno transmissor (AX1 trasmitter é nome desse da Samson) que transforma qualquer microfone com saída XLR com fio num mic sem fio. Tenho esse sistema e posso dizer que sua qualidade é muito boa. Uso esse sistema com 2 microfones diferentes hoje: o Audix Fireball e o Ev-RE 10. Para se usar microfones tipo bullet, o transmissor é diferente, possuindo conexão banana. A AKG tem o Guitar Bug e a Samson o AF-1 e o AG-1. A AKG também produzia um sistema com um transmissor semelhante (chamado SO transmitter), mas, parece que o transmissor saiu de linha e não é mais fabricado. Não tenho certeza. Acho interessante você ter o conversor de impedância também, para não ser obrigado a sempre ter que ligar e depender do sistema sem fio para tocar."
Sem dúvida, um sistema sem fio pode ajudar bastante, principalmente, na passagem de som, pois, algumas vezes, em palcos maiores, a gaita pode parecer bem equalizada nos monitores, mas, pode ocorrer do operador não mixar bem no P.A. e "queimar" seu trabalho. A única maneira de saber se o som está ao seu gosto é estando na frente do palco (onde estaria o público) ou tendo alguém/um técnico de confiança por lá para verificar a equalização. Alguns operadores acham que um som de qualidade é aquele que tem os agudos muito pronunciados. A gaita já é um instrumento de sonoridade média e aguda por natureza. Importante tomar cuidado com frequências entre 800HZ a 3K, que podem atrapalhar muito gaitistas. Se não puder ter seu próprio técnico de som, vale bater um papo com o operador de som disponível antes do show a fim de orientá-lo em relação ao som que se quer atingir.
Opa cara. Sou aluno do Guto Santana aqui em Recife. Ele me recomendou seu blog. Dei uma lida nesse seu post sobre amplificação e posso dizer que é o mais completo que consegui encontrar sobre o assunto. Muito obrigado pelas informações e continue assim pq seu blog já está salvo aqui nos meus "favoritos" pra que eu fique sempre conferindo as novas postagens. Guto me mostrou até o Audix Fireball dele, o Electrovoice tb em ação. Ele tira um som muito potente com os equipamentos dele e sempre tá procurando fazer "testes" com equipamentos diferentes, o que é muito legal nele, pq ele não é preso a velhas formas. Esse assunto ainda rende muito... Cara e se você aceitar sugestões de tópicos, eu lhe pediria pra falar sobre customização de gaitas, as afinações, os luthiers, manutenção, dicas breves de como mecher em casa e melhorar o som, essas coisas ajudariam os aprendizes de gaita que leem seu blog. Um abração e obrigado.
Opa cara. Sou aluno do Guto Santana aqui em Recife. Ele me recomendou seu blog. Dei uma lida nesse seu post sobre amplificação e posso dizer que é o mais completo que consegui encontrar sobre o assunto. Muito obrigado pelas informações e continue assim pq seu blog já está salvo aqui nos meus "favoritos" pra que eu fique sempre conferindo as novas postagens. Guto me mostrou até o Audix Fireball dele, o Electrovoice tb em ação. Ele tira um som muito potente com os equipamentos dele e sempre tá procurando fazer "testes" com equipamentos diferentes, o que é muito legal nele, pq ele não é preso a velhas formas. Esse assunto ainda rende muito... Cara e se você aceitar sugestões de tópicos, eu lhe pediria pra falar sobre customização de gaitas, as afinações, os luthiers, manutenção, dicas breves de como mecher em casa e melhorar o som, essas coisas ajudariam os aprendizes de gaita que leem seu blog. Um abração e obrigado.
ResponderExcluirObrigado, Paulo! Realmente a minha intenção é reunir o máximo de informações possíveis em apenas um endereço na web.
ResponderExcluirQuanto à sua sugestão de abordar outros temas, é muito bem vinda e assim que possível estarei explorando esses tópicos, ok?
Abraço!
Luiz Rocha
Luiz,
ResponderExcluirO link para o vídeo da Christelle Berthon utilizando o mic Audix FireBall está quebrado. O youtube diz que esse vídeo não está mais disponível.
Obrigado por avisar Krisna, mas realmente continuo abrindo o vídeo sem qualquer problema.
ResponderExcluirAbraço!