Olá, caros leitores! Nas postagens anteriores comentei sobre haver duas formas de amplificar o som da harmônica. Batizei de “Modo 1” o tocar a "gaita acústica", uma forma de amplificar que nos proporciona um som mais fiel ao som do instrumento. Na presente postagem, abordarei o "Modo 2" ou "gaita eletrificada", ou seja, quando se utiliza amplificadores, microfones especiais com cápsula de alta impedância (geralmente os bullets), além de pedais que, em conjunto, modificam o som natural da gaita, resultando em timbres robustos bem diferentes de seu som natural.
ELETRIFICAÇÃO DA HARMÔNICA (O MODO 2)
Bem, em geral o som de um microfone varia com diferentes amplificadores. Uma vez que o timbre faz parte da personalidade musical de cada um, é aconselhável ter seu próprio equipamento (mic + amp), e na falta de um amp, optar por outro que ofereça mais ou menos as mesmas possibilidades sonoras, pois existe uma variedade de amplificadores e microfones considerados excelentes que nem sempre se combinam entre si. No final das contas, a escolha será mesmo uma questão de gosto, a depender das referências e necessidades de cada indivíduo, ou das opções disponíveis no momento.
Para se tocar o blues tradicional um bom microfone bullet de alta impedância plugado num bom amplificador valvulado já resolve tudo. Nos primeiros anos da descoberta da gaita amplificada, os microfones, assim como os amplificadores, trabalhavam sempre em "alta impedância". Relembrando, os "bullets" são esses mics bojudos, com formato para encaixar na mão. Os mics finos, tipo tradicional para voz, como o SM-58 ou o Electrovoice RE-10, são chamados de "Slim". Existem excelentes mics slim pra gaita, alguns deles já foram, inclusive, citados em postagens anteriores, porém, os mics preferidos pela maioria dos gaitistas são os bullets de alta impedância, ou seja, que enviam um sinal mais forte ao amplificador, causando "saturações de pré-amplificação". Esses mics normalmente, eram usados para transmissão de voz, através de sistemas de comunicação (rádios, escolas, delegacias, hotéis, supermercados. Então, algum dia, alguém teve a brilhante idéia de plugá-los em amplificadores de guitarra da época.
Diz a história que na década de 40 os "Walters" (Little Walter e Big Walter Horton), juntamente com Snooky Pryor, passaram a utilizar microfones tipo "bullet". Primeiramente, nos anos 40 e 50, a marca que dominava o mercado era a Astatic a qual, aos poucos, foi perdendo a concorrência para a Shure, fabricante do modelo conhecido como “Green Bullet”, atualmente, a referência no mercado. Com o passar do tempo, a produção e a venda desses mics bullets foram se limitando a um único tipo de cliente: o gaitista. O fato é que, até os dias de hoje, é possível encontrar pessoas do ramo que desconhecem essa prática (uso de tais mics), inclusive, confundindo inocentemente aquele som "quente", resultado da gaita amplificada com a utilização desses mics plugados num amp valvulado, com o som de uma guitarra, não conseguindo de forma alguma identificar em primeira audição que se trata de uma harmônica.
A questão é que o timbre, proporcionado por essa mistura, muda completamente a naturalidade do som da harmônica, tornando-a com o som mais "elétrico" e lembrando, de fato, o som de uma guitarra. Algumas pessoas simplesmente não gostam ou ainda não aprenderam a gostar desse conceito, desconhecem o som que os gaitistas da década de 40 e 50 tiravam com seus mics e amps vintages, e que, para atingi-lo, é realmente necessário haver essa combinação de equipamentos. Às vezes, esse "não gostar" pode até se tratar de um preconceito inconsciente, ao se achar que o som da harmônica deve ser sempre limpo e agudo. Isso seria o mesmo que achar que o som da guitarra também deve ser sempre limpo, pois é exatamente assim quando uma guitarra é plugada na mesa de som. Uma coisa é ter um gosto musical, outra é limitar um instrumento que apresenta inúmeras possibilidades sonoras com combinações de equipamentos.
CONHECENDO MICROFONES E CÁPSULAS
Como já vimos em outras postagens, os mics mais conhecidos hoje são o Shure 520DX (Green Bullet) e os mics da Astatic modelo JT-30. Deve-se entender que embora o material utilizado na carcaça e o formato da mesma influenciam levemente no timbre, não é isso que determina o seu som, não é a carcaça, muito menos o rótulo que lhe damos, mas a sua cápsula ou elemento utilizado. Uma coisa é o formato do microfone e outra é o elemento que capta o som (cápsula) e gera o sinal, que é a principal parte de um mic e a que mais interessa. Cuidado com preços altos por mics com acabamentos fantásticos, carcaça bem trabalhadas em pinturas exóticas, mas que podem conter cápsulas de baixa qualidade. Na hora de comprar um mic, atente-se para as especificações de sua cápsula e informações adicionais. Somente após esse passo, deve-se preocupar com o design.
Outro fator que influencia no timbre é o potenciômetro utilizado e para falar melhor sobre o assunto, convidei o gaitista Diogo Farias, que fabrica mics de gaita, para escrever um artigo aqui no blog. Fiquem, então, com Diogo Farias. Antes, um vídeo dele falando de seus mics.
POTENCIÔMETROS (POT’S), POR DIOGO FARIAS
Definição:
Componente elétrico cuja função é variar a resistência de um determinado sinal, atuando no controle da intensidade do sinal (volume) ou no controle de uma determinada freqüência (controle de tone). Podemos, então, dizer que o potenciômetro nada mais é que um resistor com a resistência variável.
Aplicação:
A). Volume – ao girar ou deslizar o potenciômetro diminui-se ou aumenta-se a intensidade de uma fonte sonora (cápsula, captador). Isso resulta em um determinado controle da intensidade do sinal dessa fonte, ora mais forte (mais volume), ora mais fraco (menor volume). Note-se que algumas cápsulas da Shure vêm com um resistor. Esse resistor serve pra diminuir um pouco o sinal da cápsula (esse fator auxilia na diminuição da microfonia).
B). Tone – Promover variação de resistência para cortar uma determinada freqüência
(controle de graves, médios e agudos)
Obs: O volume máximo é determinado pelo sinal da cápsula. O potenciômetro não consegue elevar o sinal original da cápsula. Para isso, existem os sistemas ativos.
Funcionamento:
No interior do potenciômetro, temos uma trilha que pode ser de materiais como carbono ou cerâmica. Isso oferece uma resistência que varia entre uma determinada faixa à medida que giramos o potenciômetro.
Tipos de Potenciômetro:
A) Linear: Promove uma ação mais lenta (curva linear). Significa que você ao girá-lo, ele vai baixar ou aumentar o volume lentamente.
B) Logarítimo: Promove uma ação mais abrupta (curva logarítmica). Significa que você, ao girá-lo, vai baixar ou aumentar o volume bruscamente. Ambos podem ser usados nos mics de gaita (isso é uma questão puramente pessoal). Eu prefiro os logarítimos, pois respondem mais rápido.
Perguntas mais frequentes:
1 - Os pot´s podem influenciar no timbre da cápsula?
R – Sim, na verdade podem alterar o timbre negativamente (o ideal é que o timbre original não seja alterado). Nunca um potenciômetro adiciona alguma freqüência a uma determinada cápsula. Ele pode cortar algumas freqüências. Por exemplo, cortar os graves. Quando se quer cortar uma determinada freqüência é mais aconselhável usar um capacitor. Por isso, muitos gaitistas preferem mics sem controle de volume ou com chave liga-desliga.
2 - Qual o potenciômetro ideal para minha cápsula?
R - Na verdade, podem-se usar vários tipos, pois cada um vai se comportar de uma
forma. Existem algumas sugestões que já são clássicas.
Shure CM e cápsulas dinâmicas – usar potenciômetros de 250k ou 500K
Shure CR Black ou White - 500k ou 1 Mega
Cristal ou cerâmica: 1 Mega
3 - Quando eu giro o volume, ele dá um chiado. O que é isso?
R - Sujeira na pista ou pista gasta. Pode-se limpar a pista com álcool isopropílico. Se não resolver, o pot deve ser trocado.
É isso ai, um abraço a todos e boa sorte!
Diogo Farias
É isso aí, Diogo, muito obrigado por sua participação! Existem diversas marcas conhecidas que fabricam microfones especiais para gaita com diferentes formatos, tamanhos e cores: Turner, Electrovoice, Shaker e os mais conhecidos já citados, Shure e Astatic. As reedições destes últimos são as opções mais em conta, mas deve-se saber que existem mudanças no projeto original destes mics, tornando-os com sons diferentes, considerados, pela maioria como inferiores aos fabricados na década de 40-50. Para isso, existem os "customizadores de mics", que resgatam as características originais de sonoridade destes ou mesmo implementam alguma modificação solicitada pelo cliente. Aí estão alguns dos customizadores populares no Brasil:
Leôncio Torneiro: leonciogaita@gmail.com
Diogo Farias: diogofarias@bends.com.br
Uirá Cabral: uiracabral@bends.com.br
Luis Fernando Lisboa: lflisboa@zipmail.com.br
Fernando Machado: phonebullets@hotmail.com
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